A SOLUÇÃO PARA A OBSESSÃO POR TÍTULOS É A VULGARIZAÇÃO DOS MESMOS

Antes dessa compulsão atual pela hierarquia e por títulos, o clero era simples, os ministerios se sintetizavam na função de pastor, os poucos títulos existentes apenas organizavam a igreja local.


Com o passar do tempo, surgiram novos títulos, criados para abranger campos, regiões, governar multiplas igrejas e estabelecer um sistema papal. Esse fenômeno deixou a igreja com o seguinte menu clerical: Obreiro, Diácono, Levita, Evangelista, Missionário, Pastor, Mentor, Bispo, Profeta, Apostolo e '____________' <--- (espaço de honra ao Título Desconhecido, pois não quero ofender a nenhuma deidade clerical). 

Dentre esses citados acima destaco os títulos clericais de poder ou governo, 'Bispo, Profeta e Apostolo' como os mais desejados pelos que buscam status e poder sobre o povo e influência na sociedade secular. Reconheço que seja inerente ao ser humano organizar e classificar tudo e todos através de nomes. Sempre haverá títulos e hierarquias em qualquer organização. O problema que eu denuncio surge quando os títulos são usados para desviar a atenção daquilo que é importante na vida do líder, o seu caratér.

O mais importante na vida de ministro do evangelho é seu caratér! Os títulos são usados para introduzir artificialmente atributos à identidade do seu portador aos olhos do povo simples. Qualquer desconhecido charlatão se torna Santo Onipotente se seu nome próprio for precedido por certos títulos de poder. 

O nome próprio que recebemos ao nascer carrega nossa identidade, nossa historia e a verdade sobre nós mesmos. Os mais velhos nos ensinaram sabiamente a guardar nosso nome próprio pois ele carrega a historia do nosso testemunho diante da sociedade que é o crédito necessário para ministrarmos com autoridade diante do povo. 

Os sobrenomes carregam a historia da nossa familia, e injustamente somos, em um primeiro momento, classificados culturalmente por nossos sobrenomes. Por essa razão editoras sugerem mudança de sobrenomes, em alguns casos mudança de nomes, aos seus autores. Os sobrenomes 'Silva e os Santos' por exemplo, culturamente carregam a injusta marca do camponês, do comum, do 'qualquer um'. Os leitores julgam, no primeiro momento, o livro pelo nome do autor. 

Vivemos dias em que uma espécie de culto aos títulos é praticada nas igrejasNossa cultura, herança colonial da coroa portuguesa, fez de todos nós súditos da facinação pelos títulos de nobresa. Nossa inconciente submissão aos condes, aos duques e aos viscondes, abriu o caminho para que, nós os sabugosos camponeses, fóssemos vulneráveis culturamente à instituição hierarquica evangélica que usa e abusa dos textos bíblicos tal qual Efesios 4:8 como precedente para a proliferação do uso de títulos para encantar e depois subjugar o povo. 

Escândalos são incubados para somente surgir mais tarde, quando títulos são usados para dissimular, disfarçar e despistar a identidade de alguém, conferindo respeito a quem não tem historia para ser respeitado, atribuindo crédito a pessoas cujo testemunho de vida lhe nega qualquer bom crédito, reconhecendo autoridade divina a quem não possui autoridade alguma e revestindo de imunidade moral a quem moral nenhuma tem para liderar o povo de Deus. 

Títulos nunca deveriam ser usados em substituição aos requerimentos de 1Timóteo 3:1-7, por que razão deveriam eles perder tempo no processo de formação de um discípulo, se um pouco de óleo seguido de imposição de mãos pode substituir anos de treinamento? Melar e ordenar é mais prático que discipular para enviar! 
Fiel é esta palavra: Se alguém aspira ao episcopado, (...) seja irrepreensível, (...) não ganancioso; que governe bem a sua própria casa, (...) com todo o respeito, pois, se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?; (...) que tenha bom testemunho dos que estão de fora. (1Timóteo 3:1-7)
Concluí que combater a obsessão pelos títulos diretamente é inútil, historicamente nossa cultura é vulnerável ao assédio dos títulos. Criticar o título é conferir status de 'perseguido por causa evangelho' ao seu portador. A solução está na vulgarização dos títulos. Os títulos precisam ser esvaziados de seu simbolismo, de sua peculiaridade. O que mais aflige aos apostolos é saber que seu título está se tornando comum. A tentativa de se manter único no cenário nacional levou certo desesperado apostolo a criar para si mesmo o ridículo título de 'pai apostolo'. 

O confronto direto feito pelos apologetas os fortalece, pois são blindados pelo povo que os tem como 'vítimas de perseguição', porém eles são vulneráveis à suas próprias vaidades e sujeitos à suas paixões. Nada lhes causaria mais tormento que ter seus títulos vulgarizados. 

Não existe regulamentação alguma sobre os títulos clericais, ordena-se quem quiser ao título que desejar. Por isso, no bom humor da minha ironia, convoco você a ordenar seu papagaio, seu cunhado pentelho, sua sogra, aquele primo do interior, seu vizinho chato e o açogueiro à apostolo, profeta ou qualquer outro título clerical. 

Brincadeiras a parte, minha torcida é pela proliferação dos títulos clericais. Quero ver profetas, bispos, apostolos por toda parte, em todas as igrejas, quero saudar o porteiro Apostolo, a faxineira Profeta, o jardineiro Bispo. Quero que tais títulos sejam tão comuns quanto pipoca e guaraná. 

Se os títulos se tornarem vulgares, pessoas voltarão sua atenção ao que importa, aos nomes próprios dos seus líderes, ao testemunho de vida da pessoa por trás do título. A vulgarização retiraria essa imunidade moral que os títulos concedem aos seus portadores diante dos olhos de seus ouvintes. 

"Pregue o evangelho e quando for necessário use palavras", deve ser o lema de todo ministro do evangelho. Desenvolva seu chamado vivendo de tal forma que título algum possa acrescentar nada ao seu nome. Os homens de Deus na historia são conhecidos por seus nomes próprios. Durante suas vidas, a medida que cresciam em seu bom testemunho, seus títulos caiam no obsoletismo e esquecimento. 

Quem em títulos confia, pouco crédito possui em seu testemunho pessoal. 

Wesley Moreira, 

PS. ... até que Deus, naquele Dia, mude esse nome por outro melhor.