OS SHOWS DE FILANTROPIA E O PADRÃO CRISTÃO DE CARIDADE

Por que a igreja que é imperativa ao advogar que a salvação é somente pela fé, celebra com euforia as obras de filantropia de artistas propagadas pela mídia?  Ou melhor, porque a parte da Igreja que devidamente critica os “cultos shows” na igreja neopentecostal celebra os “shows de filantropias” realizadas por personagens públicos?

Ora show é show, e o padrão de Jesus é outro. O show do Edir, impondo as mãos sobre um pobre e fazendo uma oração e o Johnny Depp abraçando crianças pobres na fila do SUS é a mesma coisa. Os neopentecostais aplaudirão os dois cenários, a parte mais tradicional da igreja e por consequência, mais vulnerável às as doutrinações ideológicas dos campuses universitários, aplaude somente o segundo cenário. Eu como discípulo de Jesus não aplaudo a nenhum dos dois por uma simples razão, o padrão de Jesus é outro.

Filantropia do grego philos (amor) e Anthropos (homem) formando "amor pela humanidade", é a doutrina humanista que interpreta as grandes doações para causas humanitárias como um ato de amar, e que se opõe ao ensino bíblico de que é possível doar todos os bens aos pobres sem que isso seja um ato de amor. “E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.”  (1 Coríntios 13:3)

O filantropismo moderno teve início com Alfred Nobel criador da dinamite, originalmente uma arma de guerra, e fez sua fortuna como um dos donos da Bofors AB a maior empresa de fabricação de armas antes da segunda guerra mundial. O nome Nobel era constantemente usado como sinônimo de morte e genocídios algo que lhe preocupava, portanto para “lavar a sua imagem” ele dedicou parte de sua fortuna para a criação de um prêmio para paz. A única exigência de nobel era que seu nome estivesse ligado ao prêmio o que criaria um muro moral em torno do nome de sua família, que por sinal ainda estão a frentes das suas empresas, entre elas a Dynamit Nobel e a Akzo Nobel N.V.

Se percebe que é quase impossível separar o filantropismo da imagem de quem o pratica. O que é questionável segundo Jesus não é o ato de caridade, mas a intenção por trás do ato. Assim Jesus julga a questão:

“Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus.  Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita; Para que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará. ” (Mateus 6:1-4)

Jesus julga como um ato de hipocrisia toda caridade feita nas seguinte circunstâncias: (1) diante dos homens, (2) para serem vista pelos homens e (3) para serem glorificadas pelos homens, observem a escala de intensidade de menor a maior. Jesus também determina que a verdadeira caridade é feita no anonimato: “Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita; Para que a tua esmola seja dada em secreto; ”

Porque Jesus se importou em denunciar as esmolas dos hipócritas se afinal, algum pobre estava sendo lembrado e beneficiado, não estava o hipócrita fazendo o bem? Certamente que sim. Mas o padrão cristão está acima do padrão deste mundo. A obra pela obra não é nada. O cristão deve ajudar pela fé e a fé exige o anonimato nas obras de caridade.

Estava Alfred Nobel preocupado com a paz no mundo quando criou o prêmio? Ora se sua fortuna, que seus descendentes ainda desfrutam, foram produzidas com lucro da guerra, certamente era com sua imagem que Nobel estava preocupado, não fora assim não haveria a exigência de dar seu nome ao prêmio. Em outras palavras, se Nobel estivesse preocupado com a paz ele não desenvolveria armas de guerra em primeiro lugar.

O culto à imagem é a nova forma de idolatria. Consumimos imagens, nos dobramos diante delas, as imagens de escultura na antiguidade e hoje as imagens promovidas nas mídias digitais e impressa, na TV, internet ou nas revistas e jornais. A idolatria é qualquer forma de reverencia ou celebração a uma mentira em forma de imagem. Estava Deus preocupado com os bonecos de barro? Ora é exatamente a mentira transvertida como verdade que Deus condenou na idolatria.

A Filantropia não requere fé, mas sim câmeras, luzes e ação. A filantropia moderna com suas trombetas na mídia são um culto ao ego de quem a pratica. Quanto mais pública é a vida de uma pessoa menos ele cuida que seu ato de filantropia seja feito com discrição.

Somente no anonimato proposto por Jesus podemos relacionar amor com doações. Observando o comentário de Jesus sobre a oferta da viúva (Marcos 12: 41-44) aponta que "dá mais" quem "dá tudo" o que tem, e Paulo afirma que é possível dar tudo sem amor, (1 Coríntios 13:3) não há mais discussões a serem feitas no âmbito teológico, e qualquer tentativa de argumentar sobre o assunto resultará em uma especulação ideológica.

A Filantropia moderna é a arte de dar aquilo que lhe sobra em troca de uma infinidade de vantagens e retornos em marketing e propaganda. Nada nesse mundo é mais lucrativo que a filantropia. Como discípulo de Jesus eu questiono qualquer caridade que necessite de um palco, de uma câmera e de uma audiência para acontecer. Opondo-se ao conselho de Jesus o filantropo moderno recebe sua recompensa na terra, dos homens, em forma de aplausos, aprovações populares, muitas vezes em votos, mas sempre a recompensa é imediata e terrena.

Observem que quando Cristiano Ronaldo agride um adversário em campo e é expulso, sua equipe de marketing, sabedora de que isso poderia arranhar a sua imagem, providencia já para os seguinte dias uma visita do crack à algumas crianças em algum hospital, doações são feitas, fotos são tiradas, e a imagem do português, seu maior bem e sua grande fonte de lucro, é restaurada diante da opinião pública. Na minha intepretação dessa prática o pobre está sendo usado pelo filantropista. É ótimo que visitas a hospitais sejam feitas, e criança sejam ajudadas, mas essa prática não é o padrão cristão de caridade é não deveria receber os aplausos da Igreja.

Dar em segredo é um exercício de fé. Confiar que o testemunho do Deus que vê em secreto é tudo que o doador irá receber e saber que essa recompensa é superior a qualquer benéfico que a aprovação popular lhe proporcionaria, é uma fé como grão de mostarda, pequena, sem visibilidade, mas que se tornará uma grande árvore no futuro.

Me lembro que o pastor de minha adolescência, realizava uma operação pessoal secreta. Já tarde, em dias que não havia cultos, longe dos microfones e da adulação dos obreiros, enchia sua perua de cestas básicas e saia pela cidade a visitar as famílias com necessidade. Essa atividade pessoal dele nunca foi mencionada nos 30 anos de seu ministério e assim deve permanecer para sempre, pois essa era a sua fé. Eu que tinha apenas 15 anos descobri essas atividades por casualidade, onde meu silêncio foi requerido por ele.

Ser cristão é concordar com Jesus mesmo em situações politicamente incorretas como esse texto que lhes estou escrevendo. Estou ciente que as definições mudam com o tempo e com o momento político, mas a palavra de Deus permanece para sempre. Estou certo de que aquele que não se preocupa em zelar por sua imagem pública é mais livre que os demais, por isso não temo a censura do politicamente correto.

Nós cristãos estamos falhando em analisar o mundo segundo a Bíblia porque estamos acuados pelo politicamente correto e tememos a desaprovação popular. Temos medo das pedras atiradas pela multidão, essas pedras as quais Jesus não temeu e Paulo e Estevão sofreram.

Porque a parte da Igreja que devidamente critica os “cultos shows” na igreja neopentecostal celebra os “shows de filantropias” realizadas por personagens públicos? A reposta é simples: Pelas influências ideológicas e por que é politicamente correto.

E quando a ideologia supera a teologia na Igreja?

Esse é outro fator que me preocupa.  Ambos os grupos evangélicos citados acima fazem uso de armas carnais para defender a sua celebração à imagem e sua defesa ao show. Frases como “Quem é você para julgar? ” usada pelos defensores do show são velhas conhecidas da boca dos neopentecostais. Mas me admirei em ouvir semelhantes frases de censura da boca dos críticos do neopentecostalismo para defender o “show da filantropia” me diziam “Ele está dando voz a quem não tem. ” ou “Quem é você para julgar?” e “Tem gente que não dá nada pelo menos ele está ajudando”. Ora essa reação é completamente politicamente correta, e o politicamente correto é uma arma carnal, cunhada nos porões mais mesquinhos do humanismo, forjada para censurar a igreja e monopolizar a opinião dos anticristãos. Quando percebi que meus amigos cristãos empunharam o politicamente correto contra minha opinião expressa, percebi que havia entrado em uma batalha ideológica e não teológica como a princípio desejava. O que observo diante disso é que a igreja está mais perdida do que eu imaginava e sim, que ambos os grupos são faces opostas da mesma moeda.

Vivemos em um mundo onde a mentira é constantemente justificada e reciclada para algum fim “proveitoso” ou “bem maior” segundo alguns. Por exemplo, foi pactuado entre o FBI e a grande mídia americana que as circunstâncias da morte do famoso pastor Martin Luther King Jr. não fossem detalhadas publicamente para não afetar a imagem do ícone dos direitos humanos.  O boletim de ocorrência policial do ocorrido, esquecido propositalmente pela grande mídia, atesta que Martin Luther King foi morto enquanto fumava na sacada do motel onde estava passando a noite com uma amante. Todo historiador teme comentar o fato em seus livros e serem hostilizados pelo politicamente correto que determina que a imagem usada para um “bem maior” é mais importante que a verdade.

Trabalhei por anos em uma multinacional da Índia, me incomodava que os Indianos não demonstravam nenhum apreço por Gandhi. Quando os questionei a resposta de um deles, Ashutosh, foi a seguinte: "O Gandhi que vocês conhecem no ocidente não existiu na índia". Esse mesmo supervisor me recomendou os livros de G. B. Singh, que documentou em um livro todas as correspondências de Gandhi, as quais revelam um homem racista, sargento voluntário das forças britânicas, defensor do famigerado sistema de castas indiano, Singh documenta o linchamento de britânicos nas supostas manifestações de paz gandhistas, as constantes surras que ele dava em sua mulher e sua apologia à pedofilia que são propositalmente deixadas de fora de todas as biografias de Ghandi.

Há mais fantasias no filme “Gandhi” que no “Senhor dos Anéis”. Mas afinal, quem se importa com a verdade? Se a imagem de “Cristo moderno” atribuída a Gandhi é modelo inspirador nos livros de escolas públicas no mundo todo, e pior, é a imagem preferida dos grupos tradicionais evangélicos sempre usada para colocar em má evidência os líderes neopentecostais, assim com dizem “Gandhi era mais cristão que cristãos”. Ora qualquer que vier a trabalhar para destruir a imagem de “santos” de King e Gandhi será considerado como agente por um mundo pior e será destroçado na censura do politicamente correto, exatamente como ocorreu com G. B. Singh.

A igreja deve abandonar suas tendências ideológicas, principalmente a parte que paquera com o marxismo. A solução não está nem na campanha do sal nem na relativização da palavra, não está na oferta do desafio nem na negação do inferno, não está na semente da vitoria tampouco na falsa-graça que nega o arrependimento e o novo nascimento. A solução está na volta à essa politicamente incorreta Bíblia e seus princípios. A solução está em centralizar a Deus sobre o homem e acima de suas ideologias. O antídodo é a volta para a palavra de Deus, e aos mandamentos e princípios eternos ali contidos.

É totalmente politicamente incorrreto afirmar, por exemplo, que Jesus, nos evangelhos, nunca disse a ninguém "Eu te amo" mas sim perguntou "Tú me Amas?" Realidades assim surpreendem a muitos porque até mesmo a imagem de Jesus tem sido influenciada ideologicamente, e tal comentário ainda que amparado pela verdade provavelmente irritaria a um crente politicamente correto.

O politicamente correto é tirania intelectual, é uma censura com uma cara bonitinha e não deveria ser usada pelos cristãos. Quando o fazemos, primeiramente, deixamos de usar nossas armas espirituais e segundo, damos a vitória ideológica aos inimigos do cristianismo. O cristão deve zelar pela verdade, mesmo que a verdade seja feia para uns, envergonhe alguns ou humilhe a outros. A verdade liberta mas o politicamente correto aprisiona.

Wesley Moreira