A LETRA MATA... APENAS OS IGNORANTES

 Imagine a seguinte cena, estão duas pessoas debatendo sobre um texto bíblico. Um dos dois é um dedicado estudante da palavra ou outro um desses modistas carismáticos que mergulha em qualquer onda que passa pela igreja. O estudioso confronta o modista com a verdade da palavra e ignorancia deste é revelada. O estudioso parece que vencerá o debate quando o acuado modista no seu desespero apresenta sua arma secreta, ele levanta a seguinte acusação contra seu oponente “A letra mata , cê ta na letra... o Espirito vivifica.. vem para o Espirito … cê vai morrê na letra” - Todo um clássico!



Qualquer pessoa que passou por um ambiênte de estudo bíblico presenciou evento similar. A expressão que Paulo usou em 1 Cor 3:6 foi tirada do seu contexto histórico e se tornou arma secreta na boca de irresponsáveis contra a sua exposição diante da verdade das escrituras. Perceberam que eu usei a expressão contexto histórico e não o contexto da espistola? A expressão “A letra mata mas o espírito vivifica” era muito comum tambem nos debates teologicos nos dias de Jesus e possuiam um significado bem diferente do que pensamos hoje.

Os debate e embates teologicos eram nos dias de Jesus o de mais corriqueiro e comum entre aquele comunidade. Com o inicio da construção do Templo os da linhagem de Levi se apropriaram politicamente do projeto fundando a seita dos Saduceus. Os fariseus eram os que se importavam e ensinavam ao povo, sempre exortando-os a voltarem a Torá e a Deus. Entre os Fariseus de destacaram dois mestres. Shamai e Hillel, estes se opunham um ao outro em seus ensinos. Os fariseus da escola de Shamai era intolerantes, duros, e pregavam a observação literal do Pentateuco (5 primeiros livros da Bíblia). Os fariseus da escola de Hillel eram conhecidos por pregarem o espírito do Pentateuco (Torá) em oposição a Shamai. Os fariseus das duas casas estavam sempre em desacordo entre si e os sacerdotes do Templo, embora possuissem o apoio popular não poderiam remover os saduceus pois estes eram levitas únicos que poderiam servir como sacerdotes no templo. Caifás era um levita.

Para contextualizar o leitor com o dia a dia entre essas facções transcrevo um debate entre um saduceu e um fariseu da escola de Shamai.
“Um saduceu disse a Gebiha b. Pesisa (fariseu) "Ai de vós, ímpios, que sustentam que os mortos vão ressuscitar, se até mesmo morrem os vivos, como irão os mortos reviver". Gebiha respondeu: "Ai de vós, ímpios, que sustentam que os mortos não vão ressuscitar: se o que não era vivo, hoje vive - certamente o que viveu, viverá outra vez '. Respondeu o Saduceu: 'Tu me chamou de perverso", disse ele, 'Se eu me levantei eu poderia chutar-te a ti e tirar-te o peso da tua corcunda! Gebiha respondeu: "Se tu pudesses fazer isso", ele respondeu: "tu serias chamado de grande médico, e cobrarias grandes somas de dinheiro por sua cura." (B. Sanhedrin 91a)
Sentiu o drama? Algumas vezes esses debates terminavam com derramamento de sangue.

Paulo, um fariseu que aprendeu a lei aos pés de Gamaliel, e este por sua vez era neto do fundador da escola de Hillel. Fato que colocava Paulo em posição de disputa com os fariseus da casa de Shamai.

Observando as espístolas de Paulo, e pela análise do contexto dos seus escritos epelo tipo de ensino a que Paulo combatia conclui-se sem margem para o erro que os judaizantes que disputavam com Paulo a fé dos gentios convertidos eram os velhos inimigos de Paulo, os fariseus da escola de Shamai que haviam se convertidos a Jesus.

Portanto Paulo se encontrou, depois do novo nascimento, revivendo velhas disputas com aqueles que faziam sempre uma interpretação literal das escrituras. Paulo por sua vez se utilizava frequentemente das regras de intepretação Bíblica conhecidas como as 7 regras de Hillel, que eram usadas para entender os 'espirito das escrituras' e não seu sentido literal. Dos exemplos onde Paulo usou a quinta das 7 regras de Hillel para interpretar a Bíblia incluem: Romanos 5:8-9, 10, 15, 17; 11:12, 24; 1 Coríntios 9:11-12; 12:22, 2 Coríntios 3:7-9, 11; Filipenses 2:12; Philemon 1:16, Hebreus 2:2-3; 9:13-14; 10:28-29, 12:9, 25. (isso é assunto para outro dia)

Segundo os registros historicos, os fariseus da escola de Hillel, sempre que apresentavam sua refutação teologica contras as interpretações literais dos da escola de Shamai encerravam o debate dizendo “a letra mata, mas o espírito vivifica” o que significava que a interpretação literal mata, mas a interpretação do espírito do mandamento vivifica. Portanto, todo aquele que cita 2 Cor 3:6 está indiretamente proclamando que fez uso das 7 regras de Hillel e interpretou o princípio por trás do mandamento.

O lema ou 'slogan' da escola de Hillel por causa do aplicação exegética das 7 regras de Hillel que buscava extrair o espirito (princípio) da Torá e não sua aplicação o literal era ' A LETRA MATA MAS O ESPÍRITO VIVIFICA ' que significava que a interpretação literal da Tora usada pela escola de Shamai matava, mas o uso das 7 regras de Hillel, que buscava a revelação do espírito do mandamento.

Ainda duvida? Observe que no texto em 2Cor 3:6 a palavra espírito não começa com letra maiúscula o que indica que Paulo não estava se referindo ao Espírito Santo. Tampouco faz algum sentido dizer que ele ser referiu ao espírito do homem. Restando somente a interpretação acima.

Dessa forma, qualquer pessoa que fizer uso de 2 Cor 3:6 para justificar sua ignorância e tentar envergonhar um estudante da bíblia está testemunhando contra sua própria burrice e está morrendo na sua ignorância.

Wesley Moreira


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